18 de marzo de 2007

o que pensas de nós?

Já várias vezes me perguntaram amigos e conhecidos portugueses: “o que é que pensas de Portugal e os portugueses?” As respostas mudam. Por um lado não acho uma resposta capaz de resumir um punhado de impressões, e por outro não gosto das classificações gerais em referência às pessoas. Estou a viver em Lisboa por vontade própria, porque tive a oportunidade de vir passar um ano numa das cidades que mais gosto, que visitei pela primeira vez há treze ou catorze anos, e à qual sempre hei-de voltar. E gosto, claro, dos portugueses, mas… aqui tenho o primeiro obstáculo: o que quer dizer a expressão “o português”? As vezes pergunto-me se tal coisa existe, quero dizer, “o português” ou “o espanhol” ou “o francês”, se não será uma construção da identidade cultural em favor dos nacionalismos, como tantas outras. O assunto da identidade é complexo e exige demasiada filosofia, não é este o lugar.
No que diz respeito aos tópicos nacionais portugueses, acho que há muitos que são comuns aos povos mediterrâneos (preguiça, falta de pontualidade, etc.), e que nem sempre são certos, embora sejam mais frequentes que, por exemplo, na Alemanha... Apesar dos tópicos serem sempre demasiado generalizadores, há certas coisas que estão presentes nas conversas, na rua, nos meios de comunicação, nos livros. Há aspectos positivos, que acho muito interessantes, como a ironia portuguesa, o espírito criativo, a ideia e sentimento da saudade, a curiosidade pelo resto do mundo e o alto nível cultural de muitas pessoas. Outras, que talvez pertençam ao passado, parecem-me menos atraentes, como a presença excessiva da religião e da Igreja, a nostalgia da grandeza imperial, e certo classismo social. São as mesmas coisas que me desgostam em Espanha, os mitos pátrios carregados de valores caducos e o pensamento hierárquico, e portanto não têm a ver com “o português”.
Mas uma das questões que mais ouvi desde a minha chegada a Portugal é justamente esta: “o que pensam os outros de nós?”. Afinal essa parece-me uma das impressões mais marcantes de alguns portugueses, ao menos daqueles que mostram uma falta de confiança em si próprios e em Portugal: a necessidade de auto-estima através da avaliação externa. Felizmente, a pergunta fica no início das conversas, depois começamos a falar de assuntos interessantes.

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