Elsinore
You Are Welcome To Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore
E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny, Pena capital (1957)
[You Are Welcome To Elsinore
Entre nosotros y las palabras hay metal fundente / entre nosotros y las palabras hay hélices que andan / y pueden darnos muerte violarnos sacar / de lo más hondo de nosotros el más útil secreto / entre nosotros y las palabras hay perfiles ardientes / espacios llenos de gente de espaldas / altas flores venenosas puertas por abrir / y escaleras y punteros y niños sentados / a la espera de su tiempo y de su precipicio // A lo largo de la muralla que habitamos / hay palabras de vida hay palabras de muerte / hay palabras inmensas, que nos esperan / y otras, frágiles, que ya dejaron de esperar / hay palabras ardientes como barcos / y hay palabras hombres, palabras que guardan / su secreto y su posición // Entre nosotros y las palabras, sordamente, / las manos y las paredes de Elsinore // Y hay palabras nocturnas palabras gemidos / palabras que nos suben ilegibles a la boca / palabras diamantes palabras nunca escritas / palabras imposibles de escribir / porque no tenemos con nosotros cuerdas de violines / ni toda la sangre del mundo ni todo el abrazo del aire / y los brazos de los amantes escriben muy alto / mucho más allá del azul donde oxidados mueren / palabras maternales sólo sombra sólo sollozo / sólo espasmo sólo amor sólo soledad deshecha // Entre nosotros y las palabras, los emparedados, / y entre nosotros y las palabras, nuestro deber hablar]
Mário Cesariny (1923-2006) fue, además de pintor, el gran poeta surrealista portugués. La mala traducción sólo pretende ser fiel al original (y esto es tanto una disculpa como una afirmación).
3 comentarios:
é sempre tão bonito este poema!
( e fica muito bem em castelhano )
a poesia é sempre melhor na língua original, mas obrigado na mesma... por enquanto é um dos melhores poemas que li e reli em português.
buscaba una traducción del texto de cesariny para mi blog. linkeo la tuya, si no te importa
gracias!
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